Escorrem as notícias pelos dias, cinzentas, depressivas como eles, e nós, acabrunhados, envergonhamo-nos com o nosso primeiro ministro, de mão estendida à caridade, mendigando junto dos tiranos das sete partidas do Mundo, enquanto os seus ministros se preparam para o abandonar… Eu sei, Portugal afunda-se, sem que nenhum de nós possa agora fazer o que quer que seja para o evitar. Por isso, sejamos felizes, sem remorso nem receio. Há muitos, muitos anos, aquando de outra crise, não me chegava nunca o dinheiro até ao final do mês e recebi uma carta dos meus pais com uma pequena quantia: faziam anos de casados e queriam que nós (éramos três na altura) fôssemos jantar fora. Havia tanta necessidade, tanta privação, que hesitei: aqueles centos de escudos poderiam ser mais bem empregues em calçado, em roupa… Lembrei-me então de um poema árabe, algo como: “Se só dois pães te sobrarem / vende um / e compra flores / para alimentares a alma”. Fomos jantar ao melhor restaurante local e, bem comido, bem bebido, a alma alimentada, a crise já me não parecia tão assustadora. Desde então, defendo que a importância inegável do mundo material deve ser relativizada para que outros valores mais altos se alevantem.
Neste fim-de-semana comemorámos o São Martinho. Nos Montes, na minha adega, em família, e o tempo ajudou: vento forte, chuva, para que o lume fosse mais aconchegador. A água-pé está excelente: muito bem apaladada, leve, oito ou nove graus. Já envasilhada, pronta para distribuir pelos amigos, na esperança de que, saboreando-a, esqueçam, também eles, a desgraça que é o nosso governo e as humilhações que inflige a este pobre país -- até Timor se propõe comprar a nossa dívida! Que tal ajudar-nos pagando os custos da GNR, que lá zela pela segurança deles?
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