Logo à noite multidões esquecerão a crise e tomadas de histeria colectiva deixar-se-ão embalar pela felicidade paga a peso de cartões de crédito e entoarão em uníssono a contagem decrescente que dantes precedia o lançamento dos foguetões: "Nove, oito, sete,...". E quando a voz que faz de dona do Tempo anunciar o zero, saltarão ruidosas rolhas de espumante rasca, beijar-se-ão bocas cheias de passas, os olhares convergirão para o céu, deslumbrados com os fogos de artifício em que o pouco dinheiro público que ainda resta é alegremente queimado.
Que festejaremos, afinal? Um ano a menos de vida, um ano mais perto da morte, ou, pior, da degradação da velhice? O começo de um ano sem qualquer indício de que o desemprego diminua, de que as contas públicas se endireitem (não o fazem por si sós), um ano novo de aumento brutal de impostos e de cortes significativos em salários como o meu? E isto sem acreditar que os sacrifícios contribuam minimamente para uma melhor situação futura, ou para a recuperação da nossa independência nacional?
Sem qualquer esperança de que algum daqueles que desgraçaram este pobre país e o seu povo sempre sofredor possa vir a ser o Desejado, o Salvador, declaro que só resta a cada um de nós sobreviver e, sem remorsos, procurar ser feliz quando e como puder.
Sou suspeito. Para mim, 2010 não foi ingrato e deu-me muitas coisas boas, como o Tiago, o meu terceiro neto, uma menção honrosa e o Prémio Literário Irene Lisboa, um 2º dan, muito vinho que promete ser bom... E, sobretudo, saúde, alegria e boas leituras. É o que desejo para 2011 a toda a família, aos amigos, aos leitores deste blogue, a todos os portugueses, que tão acabrunhados andam et pour cause.
FOTO: 31 de Dezembro de 2009, Montes, na minha adega.
2 comentários:
Deixar de ter esperança, não ter fé e desistir é terrível. Sei que o ano que aí vem vai ser um "annus horribilis" (a Ivone que me perdoe se o Latim não está correcto...), mas nem por isso deixarei de abrir o espumante e desejar sinceramente que 2011 seja bem melhor do que o que está prometido. Que pelo menos durante as doze badaladas deixemos o sonho comandar a vida, como disse Gedeão.
Feliz Ano Novo!
Sem erros, Reinaldo. Como é que a avó Má diria isso na língua dela?
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