Têm as melhores notas de sempre, em boa parte mercê das explicações, do facilitismo, da inflação, das pressões que os pais exercem sobre escolas e professores -- e das calculadoras que contêm as cábulas: façam-lhes o reset antes dos exames (ou interditem o seu uso) e será a catástrofe.
Aprenderam a aprender, a fazer projectos, a investigar, estudaram formação cívica e sexual, tudo em planos aprovados pelos seus representantes e pelos dos seus pais. Rebolaram pelo chão em colchões nas aulas de Teatro, passearam amiúde em “visitas de estudo”, frequentemente até ao estrangeiro. Tiveram o maior tempo de permanência na escola, a maior carga horária de que me recordo; doses cavalares de Matemática, de Física, de Biologia, divididos em turnos por causa das experiências que talvez tenham sido mais raras do que se pensa; inscreveram-se em Moral pelas “visitas de estudo” e pelas notas altas para entrarem para os quadros de mérito e de excelência; fechados na escola, fechados nas salas de aula, transformaram-nas em recreios, saindo amiúde, para ir às sanitárias e aos cacifos, para encher as garrafas de água, para conviver, namorar – e o ruído durante o tempo de aulas tornou-se ensurdecedor, mas só dele dão conta quando fazem os testes intermédios.
Tiveram direito a complementos, a medidas de apoio, a apoio pedagógico acrescido, a tutorias, a professores de apoio, a psicólogos… Aprenderam a escrever colectivamente poemas e histórias, bem aplaudidos em cerimónias públicas, alguns lêem histórias de vampiros e quejandos – mas não tiveram “contacto merecedor de registo” com a literatura, nem sequer aquando do estudo das obras de leitura integral. Não aprenderam a amar a poesia, poucos leram alguma vez um bom romance. Desconhecem a História de Portugal, a Geografia, essas velharias, que ideias novas, como “A minha pátria é a Europa” ou a “Europa das Regiões”, tornaram obsoletas. São do mundo dos afectos, da não memorização, da investigação – que produz não raro trabalhos imprimidos directamente da Net. Não os culpo: sou também responsável pelas suas “qualificações”.
E depois têm exames. Ora, embora na sua maior parte saibam ler e o façam expressivamente, são incapazes de explicar o que acabaram de ler. Quando escrevem, poucos vão além do estilo telegráfico dos SMS e da trivialidade do Facebook. A pobreza lexical é confrangedora. Mesmo os textos daqueles que escrevem melhor se ressentem do vazio de conteúdo, da falta generalizada de cultura geral. Não lêem atentamente as perguntas dos exames porque tal nunca foi verdadeiramente necessário e nós, professores, sempre valorizáramos a conversa da treta com que enchem papel, aproveitando sempre que podemos uma palavra aqui, outra ali, para o almejado sucesso escolar – evitando planos de recuperação e justificações pelos resultados deles.
Receio que a situação seja irreversível: os professores mais velhos, entre os quais me incluo, sofrem de desalento, de desmotivação, descrentes num sistema de faz-de-conta, em que o que importa é apresentar “evidências” em inumeráveis projectos e relatórios ; os mais novos, que foram formados nas mais variadas instituições e entraram para o sistema com as regras actuais, dificilmente conceberão outro modelo de ensino… E, mesmo que fossem tomadas medidas correctivas – ai do ministro que o ouse fazer! --, na Educação os resultados demoram muito a surgir, por vezes uma ou duas gerações…
Aprenderam a aprender, a fazer projectos, a investigar, estudaram formação cívica e sexual, tudo em planos aprovados pelos seus representantes e pelos dos seus pais. Rebolaram pelo chão em colchões nas aulas de Teatro, passearam amiúde em “visitas de estudo”, frequentemente até ao estrangeiro. Tiveram o maior tempo de permanência na escola, a maior carga horária de que me recordo; doses cavalares de Matemática, de Física, de Biologia, divididos em turnos por causa das experiências que talvez tenham sido mais raras do que se pensa; inscreveram-se em Moral pelas “visitas de estudo” e pelas notas altas para entrarem para os quadros de mérito e de excelência; fechados na escola, fechados nas salas de aula, transformaram-nas em recreios, saindo amiúde, para ir às sanitárias e aos cacifos, para encher as garrafas de água, para conviver, namorar – e o ruído durante o tempo de aulas tornou-se ensurdecedor, mas só dele dão conta quando fazem os testes intermédios.
Tiveram direito a complementos, a medidas de apoio, a apoio pedagógico acrescido, a tutorias, a professores de apoio, a psicólogos… Aprenderam a escrever colectivamente poemas e histórias, bem aplaudidos em cerimónias públicas, alguns lêem histórias de vampiros e quejandos – mas não tiveram “contacto merecedor de registo” com a literatura, nem sequer aquando do estudo das obras de leitura integral. Não aprenderam a amar a poesia, poucos leram alguma vez um bom romance. Desconhecem a História de Portugal, a Geografia, essas velharias, que ideias novas, como “A minha pátria é a Europa” ou a “Europa das Regiões”, tornaram obsoletas. São do mundo dos afectos, da não memorização, da investigação – que produz não raro trabalhos imprimidos directamente da Net. Não os culpo: sou também responsável pelas suas “qualificações”.
E depois têm exames. Ora, embora na sua maior parte saibam ler e o façam expressivamente, são incapazes de explicar o que acabaram de ler. Quando escrevem, poucos vão além do estilo telegráfico dos SMS e da trivialidade do Facebook. A pobreza lexical é confrangedora. Mesmo os textos daqueles que escrevem melhor se ressentem do vazio de conteúdo, da falta generalizada de cultura geral. Não lêem atentamente as perguntas dos exames porque tal nunca foi verdadeiramente necessário e nós, professores, sempre valorizáramos a conversa da treta com que enchem papel, aproveitando sempre que podemos uma palavra aqui, outra ali, para o almejado sucesso escolar – evitando planos de recuperação e justificações pelos resultados deles.
Receio que a situação seja irreversível: os professores mais velhos, entre os quais me incluo, sofrem de desalento, de desmotivação, descrentes num sistema de faz-de-conta, em que o que importa é apresentar “evidências” em inumeráveis projectos e relatórios ; os mais novos, que foram formados nas mais variadas instituições e entraram para o sistema com as regras actuais, dificilmente conceberão outro modelo de ensino… E, mesmo que fossem tomadas medidas correctivas – ai do ministro que o ouse fazer! --, na Educação os resultados demoram muito a surgir, por vezes uma ou duas gerações…