Serpenteando por entre as colinas verdejantes, brilham as paredes brancas das casas das encostas, destoando uma ou outra no amarelo que foi moda tempos atrás --- e acima de todas elas, sobressai a torre da igreja, encimada por pára-raios agressivamente virado para o céu, servindo de eixo a cata-vento de ferro, em forma de galo orgulhoso, bico sempre apontado para barlavento, cauda larga para sotavento.
Do galo se diz que é inconstante como a aragem que o faz rodar, mas se o observarmos sem ideias pré-concebidas, dia após dia, ano após ano, melhor ainda, se o pudéssemos acompanhar vida após vida, concluiríamos, como eu próprio já concluí, que também ele tem as suas querenças, visto que, podendo apontar em qualquer direcção, o vejo de manhãzinha olhando para Nascente, como se também ele, na sua mudez férrea, quisesse saudar o nascer do Sol, ou o cacarejar que vem dessa direcção lhe animasse uma qualquer molécula orgânica, depositada pelos pardais oportunistas que o usam como poleiro, sujando-o indecorosamente...
Vendo-o assim imóvel, pensar-se-ia até que a ferrugem lhe limitou os movimentos na sua velhice, imobilizando-o nessa direcção; mas não, que quando a aldeia gela fustigada pelos ventos secos de Leste, de onde nunca veio nada que preste, o pobre coitado, não tendo como se resguardar, mais não pode que apontar-lhes o bico, virando a cauda para os lados do mar. (...)
Do galo se diz que é inconstante como a aragem que o faz rodar, mas se o observarmos sem ideias pré-concebidas, dia após dia, ano após ano, melhor ainda, se o pudéssemos acompanhar vida após vida, concluiríamos, como eu próprio já concluí, que também ele tem as suas querenças, visto que, podendo apontar em qualquer direcção, o vejo de manhãzinha olhando para Nascente, como se também ele, na sua mudez férrea, quisesse saudar o nascer do Sol, ou o cacarejar que vem dessa direcção lhe animasse uma qualquer molécula orgânica, depositada pelos pardais oportunistas que o usam como poleiro, sujando-o indecorosamente...
Vendo-o assim imóvel, pensar-se-ia até que a ferrugem lhe limitou os movimentos na sua velhice, imobilizando-o nessa direcção; mas não, que quando a aldeia gela fustigada pelos ventos secos de Leste, de onde nunca veio nada que preste, o pobre coitado, não tendo como se resguardar, mais não pode que apontar-lhes o bico, virando a cauda para os lados do mar. (...)
A mim, que raramente termino aquilo que começo, volúvel como o vento, de tal forma que já troco barlavento com sotavento, consola-me este amigo de outros tempos, testemunha muda de homens e de ventosidades, que tanto sabe e tudo cala, apenas preocupado como eu em virar a cauda ao desconforto, o olhar impassível fitando o infinito. Que ele me valha nesta narração, orientando-me para os protagonistas certos, inspirando-me a seguir a direito, sem desvios nem divagações, e, sobretudo, sem verborreia que se pegue ao texto como excremento de galinha às botas do criador.
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