A agricultura voltou a ser assunto de discussão, talvez devido às recentes intervenções do Presidente da República, que tendo descoberto primeiro o mar e os seus recursos, se volta agora para a terra. Mudou de opinião este "bom aluno europeu", o qual, como é apanágio de alguns "bons alunos", se preocupou então mais em agradar aos seus mestres do que com o futuro nacional, promovendo políticas que implicaram o abate da frota pesqueira e o abandono da actividade agrícola.
Porém, esta mudança de posição preocupa-me, não por discordar do aproveitamento dos nossos recursos, mas porque me parece assentar numa ilusão salvadora, sebastiânica, e por ser demasiado tarde para arrepiar caminho. Antes de mais, importa recordar que os nossos solos, na sua maior parte, têm fraca aptidão agrícola, são frequentemente demasiado acidentados, escasseia a água em muitas regiões e o clima é não raro adverso. Os agricultores que ainda resistem têm idade avançada, baixa formação, pouca ou nenhuma apetência pela comercialização e gestão. E os mais novos não terão grande interesse pela agricultura, actividade mal paga, dura e socialmente desconsiderada em todos os tempos e culturas. E nada sabem fazer, não bastando uns cursos de formação do centro de emprego para virar agricultor.
Acresce ainda o facto de a agricultura moderna, latifundiária, à moda da França ou da Alemanha, ser muito exigente em capitais e os respectivos agricultores se encontrarem fortemente endividados.
Não vale a pena, portanto, ver na agricultura (e talvez nas pescas) a tábua de salvação para o naufrágio nacional. Exceptuando em certas regiões favorecidas pelo clima, pelo solo, que dispõem de infra-estruturas e em que os agricultores têm um savoir-faire que alia a qualidade ao marketing, não haja ilusões: como disse o papa Pio-não-sei-quantos, há três formas de um homem se arruinar: ao jogo, com as mulheres e com a agricultura, acrescentando que o pai tinha escolhido a mais trabalhosa.
Tudo isto parece estar em contradição com a defesa que regularmente faço da terra neste blogue. Não está. A agricultura possível na generalidade do território poderá assegurar a sobrevivência das famílias, proporcionar alguma rentabilidade se combinada com a exploração racional da terra envolvendo o turismo, a pecuária, a caça. Não enriquecerá os agricultores nem lhes dará proventos comparáveis aos que teriam se empregados nas cidades. Terão de se contentar com liberdade, felicidade, exercício físico. E forte desconsideração social. Até na minha aldeia o povo ri quando passo de tractor para a labuta. E imagino o que dirão: grande bruto, a cansar o corpo sem ter necessidade disso. A gastar o que ganha como professor, porque, todos o sabemos, os alimentos comprados nos hipermercados ficam mais baratos do que os produzidos. Mas isso é matéria para outro post, que este já vai longo e eu tenho de me meter ao caminho, rumo a outro hospital para onde transferiram a minha mãe.
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