Neste fim-de-semana arranquei as batatas. Quinze horas de trabalho duro, solitário. Calor, muito calor, logo às sete da manhã. Sem o alívio de uma brisa na face, sem que nuvem simpática ocultasse o Sol. O suor (eu sei, gente fina não sua, transpira, e só nos ginásios, mas gente fina não arranca batatas), o suor sempre a correr, copioso, da testa, empapando o boné, das sobrancelhas, como de bicas abertas, do peito, ao ponto de a t-shirt poder ser espremida. No regresso a casa acelerava deliciado o tractor para sentir a fresquidão das sombras dos caminhos. E banho frio, para arrefecer o corpo, e seven up traçada com limão, depois com vinho, agoniado dos litros de água ingerida na labuta.
Final de uma campanha difícil, marcada pela doença da minha mãe, que pouco tempo me deixa para a agricultura, e pelos azares climáticos, com chuvadas habituais aos fins-se-semana. Mesmo assim, já estão armazenadas, sem que tal signifique descanso: é preciso combater a traça, que no ano passado destruiu toda a minha produção, retirar regularmente as podres, mais tarde desgrelá-las amiúde.
Vale a pena? Não. Mas em cada Primavera, enquanto puder, continuarei a plantar batatas. É um bom exercício -- perdi quilos só na arranca --, não pensei no monte de testes que tenho de corrigir até quarta-feira, não me preocupei com desgraças, da doença da minha mãe à situação do país, da Europa, do Mundo -- e tenho o prazer de as comer e a satisfação da abundância: se não se estragarem, chegam para a família até à próxima colheita.
NOTA: a imagem de baixo é de colheita anterior, que este ano não houve quem tirasse as fotos.
NOTA: a imagem de baixo é de colheita anterior, que este ano não houve quem tirasse as fotos.
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