A minha mãe estava a melhorar. Devagar, mas progressivamente. Por isso, na terça devolveram-na ao Hospital de Alcobaça, de onde tinha saído a 10 de Março, à beira da morte. Para quem não sabe (e eu não o sabia até lá entrar) o SO é uma espécie de urgência. Arrumam lá os doentes que não têm lugar nos restantes serviços. Arrumam-nos, porque, dizem e eu acredito, mais não podem fazer. Por isso, logo na terça à noite, a minha mãe numa maca, perguntei à médica porque é que estava no SO e não noutro serviço.
-- É tão óbvio que nem vejo porque é que lho tenho de explicar.
Tenho muita dificuldade em ver o óbvio, ao contrário dos médicos. Os quais, desde 3 de Janeiro deste ano, diagnosticaram à minha mãe: 1. Tendinite. 2. Zona. 3. Artroses. 4. Trombo-flebite. 5. Infecção pulmonar. 6. Aneurisma da aorta -- este último, certeiro, em Santa Maria. É óbvio que alguns diagnósticos estavam errados. É óbvio que os tratamentos para diagnósticos errados podem ter agravado o seu estado de saúde. É óbvio que se perderam meses preciosos enquanto a saúde se deteriorava. É óbvio que em Santa Maria lutaram incansavelmente pela vida dela. É óbvio (ou não será?) que se o Hospital de Alcobaça não tinha possibilidade de receber e tratar adequadamente a minha mãe, deveria ter sido enviada para outro hospital. É óbvio que não vale a pena salvar doentes com esforço, dedicação e custos elevadíssimos para depois definharem numa cadeira de hospital, quase sem visitas (só 2 familiares, 15-16H e 21H-21H30)), o resto do dia sem ocupação, sem estímulos, sem fisioterapia...
Na quarta-feira, ontem, fui humilhado por uma auxiliar: a visita das 21H começou bem depois das 21H30, hora a que termina; a minha prima entrou primeiro, a meu pedido, que a minha mãe não a via desde 10 de Março, e avizinhando-se o términos da visita, saiu para me dar lugar; eu, como tinha a minha senha e o corredor é muito longo, não vendo segurança nem outro pessoal por ali, entrei à pressa, apenas para me despedir da minha mãe. E encontrei uma auxiliar.
-- O que é que está aqui a fazer?
-- Sou a segunda visita, e mostrei a senha.
-- Faça favor de sair.
Aparvalhado, nem percebia. Pensei que me dizia que a visita tinha terminado. E o tom de voz. Há seis meses por hospitais, ninguém me tinha assim destratado -- e sem razão.
-- Faça favor de sair, repetia, autoritária.
-- Quero só dizer até amanhã à minha mãe.
-- Faça favor de sair, que eu vou buscá-lo à entrada.
-- Mas se estou aqui consigo...
-- Tem de sair. São as normas do hospital.
A perder tempo de visita, caminhei à frente da auxiliar até à porta de entrada, para depois reentrar atrás dela e percorrer novamente os longos e labirínticos corredores.
É óbvio que em Santa Maria me habituaram mal as auxiliares, enfermeiras e enfermeiros, médicas e médicos, do Bloco Operatório, dos Cuidados Intensivos, dos Cuidados Intermédios, da Enfermaria. A todos eles, o meu muito obrigado. Pela gentileza, pela compreensão, pelo apoio, pelos esclarecimentos óbvios que me nunca negaram. Por aquilo que fizeram pela minha mãe. Esperemos que agora se não perca.
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