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sábado, 31 de janeiro de 2015

Sem paciência para disparates

(1) Todos os meus romances têm sido motivados por poemas. Entre Cós e Alpedriz não foi excepção. O nome da protagonista, Guiomar Afonso, foi roubado a este poema de Roi Queimado (séc. XIII), que tanto aprecio, apesar de se tratar de um autor injustamente desconsiderado por ter sido alvo de uma cantiga d' escarnho e de mal dizer do seu contemporâneo Pero Garcia Burgalês:
Pois que eu ora morto for
sei bem ca dirá mia senhor:
- Eu sõo Guiomar Afonso!
  
Pois souber mui bem ca morri
por ela, sei que dirá assi:
- Eu sõo Guiomar Afonso!
  
Pois que eu morrer, filhará
entom o soqueix'e dirá:
- Eu sõo Guiomar Afonso!
Roi Queimado
Para gente distraída: Guiomar não é Guimar; não há, nunca houve, nos Montes nenhuma Joaquina Guiomar Afonso. Se a minha personagem tivesse existido realmente, teria hoje cento e doze anos! Só mesmo gente ociosa para especular se será esta ou aquela!
(2) O meu pai chamava martinho-larau ao pica-pau. Aproveitei o nome, sem saber que há essa alcunha na terra. Mas digam-me: como podem confundir uma pessoa ainda viva com uma personagem que teria hoje uns bons cento e trinta anos? Como podem estabelecer correspondência entre realidade e ficção se a minha personagem morreu em briga à enxadada (p. 91) aí por 1920?
(3) Querem personagens com existência real? Procurem o meu avô 'Sargento', a minha avó Francisca, o meu pai Afonso (Afonso Carriçudo / Alça a perna e mija tudo (p. 180), os meus amigos, como o Adelino Galfarro, precocemente morto de cancro, o meu primo Zé Luís, vitimado por acidente de carro, como o foram o Adolfo, o Carlos, encontrem o Zé Firmino, o único sobrevivente desse acidente. Procurem-me a mim, que lá estou "um cachopo bem mais pequeno, pequeno de mais par a idade, (...) o cagarola..." (p.223), como estou na toirada, como lá está o mar tal como o vi aos quatro ou cinco anos... 
(4) É ocioso perder tempo em tentativas de usar o romance para intrigas e brigas; é tarefa insensata, que não resiste à simples cronologia dos acontecimentos. Em vez disso, apreciem essa obra de amor à aldeia onde nasci e às suas gentes, dedicada "aos homens da minha terra, grandes contadores de histórias, cujo talento bem invejo e gostaria de poder imitar", recordem o sofrimento em que viveram os nossos antepassados, sintam a dor da perda causada pela passagem do tempo e pela inevitabilidade da doença e da morte.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Violência doméstica

Aí por 1990, a minha mulher foi chamada à escola da nossa filha mais nova, e escutava, atónita, a professora primária.
Meias palavras, frases veladas: — As vítimas tendem a entrar em estado de negação. Mas é pior. Veja lá, se precisar de auxílio posso encaminhá-la...
— Mas está a falar de quê?
— Bom, é sempre melindroso falar nestas coisas, não é? E baixando a voz: — A Sofia contou que o ambiente familiar é mau...
— O quê?
— Vê, é o que dizia, a negação sistemática... Confidenciou-me ela que lá em casa toda a gente se dá mal, reconheceu que há violência...
— À tarde, falamos com ela.
— Mas veja lá como lhe falam, o que lhe vão dizer, não esqueça que as crianças são sempre as maiores vítimas...
À tarde, já em casa, interrogatório: — O que é que foste contar à tua professora?
— Nada!
— Mas ela disse à tua mãe que te tinhas queixado do mau ambiente familiar, que tinhas dito que cá em casa toda a gente se dá mal, que há violência...
E a criança, com naturalidadel: — Ah, sim, falei nisso.
— Mas que violência é tu viste, quem é que se dá mal?
— Ora, tu gritas com as galinhas, chamas-lhes nomes! Até já te vi bater no galo com a colher de pau!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O carneiro

Era uma tarde de domingo, e eu, no alpendre, ao sol, lia tranquilamente o Expresso. Chama-me a atenção tropel rua abaixo. Um carneiro. Coitado, terá sorte se não for atropelado. Ia recomeçar a leitura quando o vejo, no quintal vizinho, a olhar-me. Não me preocupei. Separava-nos muro alto. De um salto, ei-lo no meu quintal, à briga com o meu cão, o Clip, um boxer. Acorro a tentar evitar que aqueles vândalos destruam a horta – o que depressa fazem, antes que consiga prender o Clip, que ladra furioso e corre em torno do carneiro que investe à marrada.
Como vou pôr na rua esta visita indesejada? Lembro-me dos cobóis. Com baraço, prendo-o pelo pescoço e puxo. Finca as patas no chão, não o consigo fazer avançar. Grito pela minha mulher. Peço-lhe que bata nas traseiras do carneiro enquanto eu puxo. E ela começa a bater, a medo – com talo de couve! Esforço-me, o carneiro cai por terra asfixiado. Alivio o garrote. Recomeçamos os três. Muito a custo, conseguimos pô-lo na rua.
Mas ele, em galope rápido, entra novamente no quintal do vizinho, daí salta o meu muro, ei-lo outra vez no meu quintal. E nós a escorraçá-lo. Centímetro a centímetro, que ele asfixiava e desmaiava frequentemente. Então deixava-o respirar, pôr-se de pé, ainda cambaleante, e vai de o puxar para fora do meu quintal.
Outra vez a mesma história. Lembro-me de enigma do livro da escola primária, algo como como transportar num barco um lobo, um cordeiro e uma folha de couve, e adapto-o: solto o cão, consigo, muito a custo, que o seu ladrar mais enervava o intruso, fechar o carneiro no canil, a investir contra a rede que ameaçava romper, saio a perguntar aos vizinhos com rebanhos se lhes faltava rês. O primeiro que encontro está a cair de bêbedo. Depois de me fazer entender, o que demorou, que as minhas palavras só a custo atravessavam a névoa alcoólica que o envolvia, bem patente no bafo que exalava, lá me diz que acha que não.
Figuras que fazemos: eu, que por ali não conhecia ainda ninguém, a tocar às campainhas, a bater às portas: -- Vizinho, apareceu um carneiro no meu quintal, sabe de quem é?
Depois de muito porfiar, lá dei com o dono. Ou com a pessoa que me disse que sim, tinham-lhe fugido cordeiros assustados com um cão, ainda lhe faltavam alguns. E lá vamos, eu, o vizinho, o filho, um baraço para trazer o animal de volta ao redil: -- Olhe que não o vai conseguir trazer à corda! Experimentei e ele finca as patas no chão, não há como o fazer andar.

Mas trouxe. E, surpresa, sem oferecer resistência. O truque? Pois o filho levanta uma das patas traseiras do animal, e aí vai ele, a seguir o dono como um cordeirinho.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O gatinho na oliveira

Noite gélida de Dezembro. Tinha então uma cadela rotweiller, e ela ladrava furiosa. Saí para o quintal a tentar perceber o que se passava. Nada descortinei na escuridão. Mas a cadela olhava para cima, para a oliveira que pega com as capoeiras. Não a consegui acalmar. Era tarde, mais de meia-noite, não queria que o seu ladrar poderoso, insistente, incomodasse os vizinhos. Fui buscar lanterna. A custo, avistei um gato no alto da árvore. Obriguei a cadela entrar em casa, na esperança de que o gato fosse à sua vida. Em vão. Quando, muito tempo depois, deixei sair a cadela, que não acalmava, a história repetiu-se. Eu queria sossego, queria deitar-me. Comecei por atirar objectos para a oliveira tentando assustar o gato. Subiu ainda mais.
Sem saber o que mais fazer, lembrei-me de usar água, sabido que é que os gatos a detestam. E vai mangueirada até ao alto. Mas o bichano, mesmo ensopado, não descia. 
Ouço chamar. Prendo a cadela, vou ao portão. Eram os vizinhos novos. Preocupados porque o seu gatinho siamês estava desaparecido.
Bom, estava um gato em cima da minha oliveira…
Se podiam entrar. Claro. E fui-me desculpando: até lhe atirei com uma pouca de água a ver se descia, coitado… Não imagino o que terão pensado ao ver o charco debaixo da árvore, depois ao recuperarem o bichano ensopado, a tiritar como varas verdes, que a vizinha aconchegava no regaço, a tentar aquecê-lo, parecendo não ligar às desculpas que eu repetia: sem saber como fazer o gatinho descer, só me tinha lembrado da água…
FOTO: a cadela, Sete de seu nome de família. Com um tubo de PVC, o seu brinquedo favorito. Saudades.

Mulheres endiabradas

Houve, há, mulheres do diabo, volteiras, capazes de surrar impiedosamente um homem. Já vi algumas. Mas nenhuma como a deste episódio
Anos atrás, ao chegarmos ao café das imediações, deparámos com rapaz a tentar estancar o sangue que lhe jorrava da face. Sem querer ser parte nos conflitos daquela gente, entrámos, apesar do sol de inverno pedir esplanada. Ao balcão, uma jovem, estatura mediana, forte, berrava ao telefone e, olhos a fuzilar, olhou-nos como se também nos fosse desancar. Pedi os cafés, acrescentei, a querer distância da moça enraivecida: -- Vamos lá para fora. E perguntei à empregada,filha da dona, enquanto pagava para abalarmos depressa: -- O que é que foi?
Em voz baixa, sempre sem despregar os olhos da porta, não viesse de lá a outra, contou: aquele rapaz, e apontou-o com o olhar, pedreiro, ao vê-la chegar, teria murmurado algo; desconfiada, a volteira partiu uma garrafa e cravou-a impiedosamente na cara do moço. Depois, entrou, não a proteger-se de retaliações, mas a exigir o telefone, e ligou para a polícia a reclamar a sua presença.
-- Mas, acrescentava a empregada, eles não querem vir, que anteontem, no, e disse o nome de café vizinho, armou desordem, veio a polícia e arrumou um dos agentes com joelhada entre as pernas!

FOTO: a Maria da Fonte / Não é mulher como as mais / Usa facas e pistolas / Para matar os Cabrais!

O lateiro

O lateiro* (Da série, Na tropa)
Sofria então do apetite voraz dos vinte anos, agravado por exercícios físicos intensos e castigos frequentes. Com motivo, sem motivo, ou por dá cá aquela palha,
-- Tá a encher! Faça (a fórmula de tratamento era sempre respeitosa) aí trinta flexões e dez cangurus!
ou porque todo o pelotão era castigado,
-- Mais dez!
ou por recusar parvoíces,
-- Vá dar vinte àquela árvore! 
--  Então faz já vinte flexões aí. Protesto: corre água por baixo. -- Assim, são cinquenta. Se as fizer bem feitas não se molha! 
Mas os braços exaustos mal conseguiam levantar a barriga do chão. 
-- Mais vinte, que essas foram aldrabadas!
E nos crosses que antecediam a saída de fim‑de‑semana, que fazíamos com as botas da tropa,  a farda de trabalho, os arreios, os carregadores e o cantil, ambos vazios, muitas vezes carreguei, para além da minha G3, a de camaradas menos robustos fisicamente: enquanto não estivesse todo o pelotão formado e impecavelmente arranjado na parada, não havia saídas para ninguém. Ora não podia perder a única carreira do sábado à tarde para a minha terra...
Pois a fome era constante, a fraqueza muita, a comida péssima.
-- Como é que está o prato, perguntavam-me os camaradas, antes de se atreverem a provar. Se dizia "Está bom", traduziam por "Pode-se comer". Caso contrário, ficavam-se pela sopa e pelo "casqueiro", o saboroso pão estaladiço, cozido no quartel. E seguiam para a camarata, a completar a magra refeição com  pitéus -- alheiras, chouriços, queijo, bolos, tudo trazido de casa em cada fim-de-semana, e, quando havia saídas à noite, enchiam-se de tostas, sandes e galões nos cafés da cidade. Não eu, que não podia, nem queria: obrigam-me a estar aqui, têm de me alimentar. 
Logo ao pequeno almoço, enfiava dentro de carcaça um pacote inteiro de 250 gramas de manteiga genuína, único luxo alimentar da minha recruta, e empurrava aquilo com a mixórdia de café com leite em pó, a que, dizia-se, adicionavam químicos para tirar a tesão. Ao almoço e ao jantar, virava a travessa, se os outros, apetite perdido à vista dos manjares servidos, apenas sujavam os pratos de segundo para não serem acusados de levantamento de rancho e se retiravam enojados a comer dos armários.
Pois num belo dia de muita chuva, em que rastejávamos pela lama, rolávamos por ribanceiras, treinávamos a "queda na máscara" sobre urzes e espinheiros, o aspirante confidenciou: -- Hoje há rancho melhorado! E não revelava que prato seria esse a substituir o maldito espaguete gorduroso, que fiquei a odiar para o resto da vida, ou o arroz espapaçado, adubado talvez com um ou dois estilhaços de carne horrível. 
Aguardávamos impacientes na formatura por ordem de entrada no refeitório. Os longos minutos pareciam horas, depois passaram a horas. Mais de duas, de pé, na descansada posição de Descansar. Desesperava com fome, receava desmaiar de fraqueza, como vira já suceder a outros. 
Eis que surge o comandante de companhia. com as duas notícias da praxe, uma boa: teríamos frango assado; outra má: tinha havido uma avaria na cozinha! E pedia voluntários para ajudar, não é a vossa função, senhores instruendos, mas para almoçarem mais depressa...
Sabia, tal como todos os outros, que na tropa nunca se deve ser voluntário para nada. Mas a fome era negra e avancei, na esperança de, uma vez dentro da cozinha, deitar mão a perna de frango, a asa que fosse...
E pela primeira vez entrei na cozinha de um quartel. Cheiro nauseabundo. Porcarias por todo o lado. Chão imundo, gorduroso. E vi, com estes dois que a terra há-de comer, tarde, espero, um soldado a limpá-lo com esfregona, a mesma que de seguida introduziu numa das enormes panelas antes de outro para lá despejar o arroz que iria acompanhar o frango assado.
Nunca mais entrei na cozinha de um quartel -- mas aquele cheiro nauseante, inconfundível,permanece entranhado nas minhas memórias quarenta anos depois.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Artimanhas da escrita

Em cada discurso do general De Gaulle, mesmo naqueles que proferiu em momentos de crise profunda, de quase guerra civil, havia, invariavelmente, uma palavra rara. 
O presidente vai falar esta noite? Pois reuniam-se frente aos televisores, em casa, nos cafés, nas brasseries, nas colectividades, ouviam-no religiosamente até ao fim, cada qual querendo ser o primeiro a identificar a palavra, a explicar triunfante o seu significado, a listar as acepções, a discutir a pertinência do seu emprego.
Também eu recorro frequentemente a este truque para ser lido e verificar se o fui. Não se amofinem. Lembrem-se d'A Queda, de Camus: "Ah! Noto que implica com este imperfeito do conjuntivo. Confesso o meu fraco por este modo, e pela frase castiça em geral." 
Portanto, não me censurem por recorrer amiúde a arcaísmos sintácticos e lexicais. Os quais, afinal, talvez não sejam de tão mau gosto como os palavrões, quando são utilizados escusadamente...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Mobilizado para a Guiné

Enquanto o primeiro texto sobre as minhas vivências na tropa não sai, fiquem com este do escritor João Madeira, extraído do seu romance O Rio que Corre na Calçada e apreciem a arte de bem escrever.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Não me falem de tropa!

-- Não me fales de tropa! Já não posso ouvir falar de tropa!
Desabafo concluído, os moços acabados de chegar do quartel para breve fim-de-semana não falavam de outra coisa. Alguns, poucos, pela patente militar ou pelo estatuto social, eram rodeados por ouvintes respeitosos, que lhes bebiam sôfregos as palavras. Mas os zés-ninguém tinham de se esforçar para conseguirem um pouco de atenção para as suas histórias já gastas, e alteravam enredos, procuravam o exótico, sublinhavam o picaresco, deitavam mão às artimanhas que a fala permite para prender ouvintes -- imitavam os linguajares dos bimbos ou dos algarvios, variavam o tom de voz, enfatizavam os gestos, abusavam dos trejeitos, para que os não os interrompessem: -- Essa já conhecemos! -- e antecipassem imediatamente o final.
Como eles, com quarenta anos de atraso, também eu me proponho dar vida um punhado de historietas banais do meu tempo de tropa, ciente de que hoje, menos ainda do que na época, a poucos interessarão:
 -- Não me fales de tropa! Já não posso ouvir falar de tropa!
Não há problema. Como se diz na minha terra, a quem não quer tenho eu muito que dar.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Quarenta anos atrás...

Dá vontade de rir pensar que este bando de miúdos enfezados, engravatados, eram soldados– instruendos e estavam a ser duramente preparados para a guerra e para nela comandarem praças pelas picadas de Angola – Spínola pretendia descolonizar as restantes “províncias ultramarinas”, mas preservar a jóia do Império.
Este é o meu pelotão, um dos cinco de cada uma das cinco companhias de instruendos do quartel, comandado pelo aspirante, atrás, ao meio, facilmente identificável por ser o único de quico. Um ranger. Dos duros. Não parece, pois não? Fosse hoje e veríamos no seu lugar matulão culturista, cara borrada, ar de mau, não com a farda de trabalho, mas envergando imponente camuflado, mangas arregaçadas a exibir os poderosos músculos. Mudam-se os tempos, mudam-se os soldados.
Sou o terceiro a contar da direita, na fila do meio, óculos e bigode. Incorporado à força, aos vinte anos, exactamente quarenta anos atrás, no Regimento de Infantaria n. 7, de Leiria. Deram-me fardamento, a descontar no pré, uma G3 para companhia permanente, um lugar num beliche duma camarata, pespegaram-me ao peito letreiro com um número para saber que de indivíduo passava a soldado-instruendo 1093/975.
Saudades? Nenhumas. Não gostei da tropa, da ordem unida, da vida regulada pelos toques de clarim, das formaturas, dos discursos intermináveis sofridos na parada na posição nada descansada de "descanso", da comida que hoje não dariam aos porcos, dos castigos por dá cá aquela palha, dos fins-de-semana cortados, da instabilidade que o ambiente de pré-guerra civil causava. 
Porém, estive lá. Contrariado, mas estive. Quarenta anos atrás, que passaram quase sem que desse por eles.

Virgens ou uvas?

Não surpreende a aversão das religiões à ciência: pois se esta lhes está constantemente a destruir, não apenas certezas, mas, pior, as mais deliciosas das promessas! Por exemplo, leio no blogue de Rentes de Carvalho, Tempo Contado, que um estudioso do Alcorão sustenta que as virgens prometidas aos mártires são um erro de tradução; o que os espera são apenas... uvas brancas! Leiam o post, sigam os links, que vale a pena.

Lobos livres e cães acorrentados

Sempre que vejo um cão acorrentado, lembro-me da fábula de La Fontaine: um mastim possante, luzidio, bem tratado, tenta convencer um lobo escanzelado a abandonar a vida selvagem e a deixar-se domesticar. Não só se livra da fome crónica, das perseguições, das armadilhas e venenos, como até passa a ter direito a acepipes de luxo, como ossos de frango e de pombo mal esburgados, afagos sempre que o dono estiver de feição. Mas o lobo, prestes a deixar-se convencer, repara numa marca no pescoço do cão.
-- Que é isso?
-- Nada, disfarça o cão. Mas o lobo insiste. E o cão acaba por confessar que são marcas da coleira com que o prendem. Preso? Ah, o lobo não trocaria a liberdade por todas as iguarias do cão, por um tesouro que fosse. E deu em fugir com tal ímpeto que até hoje não parou de correr.
(A fábula pode ser lida, por exemplo, neste link.)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

No campo

Ontem, quinta-feira. Outro dia de labuta intensa: de manhã. trasfega do vinho (foto 1). De tarde, abri regos de drenagem (foto 2), não se dê o caso de vir para aí chuva intensa como nos dois anos anteriores, e, aproveitando a charrua montada, lavrei um bom talhão (foto 3). Foto 4: o feliz lavrador