Em cada discurso do general De Gaulle, mesmo naqueles que proferiu em momentos de crise profunda, de quase guerra civil, havia, invariavelmente, uma palavra rara.
O presidente vai falar esta noite? Pois reuniam-se frente aos televisores, em casa, nos cafés, nas brasseries, nas colectividades, ouviam-no religiosamente até ao fim, cada qual querendo ser o primeiro a identificar a palavra, a explicar triunfante o seu significado, a listar as acepções, a discutir a pertinência do seu emprego.
Também eu recorro frequentemente a este truque para ser lido e verificar se o fui. Não se amofinem. Lembrem-se d'A Queda, de Camus: "Ah! Noto que implica com este imperfeito do conjuntivo. Confesso o meu fraco por este modo, e pela frase castiça em geral."
Portanto, não me censurem por recorrer amiúde a arcaísmos sintácticos e lexicais. Os quais, afinal, talvez não sejam de tão mau gosto como os palavrões, quando são utilizados escusadamente...
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