-- Não me fales de tropa! Já não posso ouvir falar de tropa!
Desabafo concluído, os moços acabados de chegar do quartel para breve fim-de-semana não falavam de outra coisa. Alguns, poucos, pela patente militar ou pelo estatuto social, eram rodeados por ouvintes respeitosos, que lhes bebiam sôfregos as palavras. Mas os zés-ninguém tinham de se esforçar para conseguirem um pouco de atenção para as suas histórias já gastas, e alteravam enredos, procuravam o exótico, sublinhavam o picaresco, deitavam mão às artimanhas que a fala permite para prender ouvintes -- imitavam os linguajares dos bimbos ou dos algarvios, variavam o tom de voz, enfatizavam os gestos, abusavam dos trejeitos, para que os não os interrompessem: -- Essa já conhecemos! -- e antecipassem imediatamente o final.
Como eles, com quarenta anos de atraso, também eu me proponho dar vida um punhado de historietas banais do meu tempo de tropa, ciente de que hoje, menos ainda do que na época, a poucos interessarão:
-- Não me fales de tropa! Já não posso ouvir falar de tropa!
Não há problema. Como se diz na minha terra, a quem não quer tenho eu muito que dar.
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