Sempre que vejo um cão acorrentado, lembro-me da fábula de La Fontaine: um mastim possante, luzidio, bem tratado, tenta convencer um lobo escanzelado a abandonar a vida selvagem e a deixar-se domesticar. Não só se livra da fome crónica, das perseguições, das armadilhas e venenos, como até passa a ter direito a acepipes de luxo, como ossos de frango e de pombo mal esburgados, afagos sempre que o dono estiver de feição. Mas o lobo, prestes a deixar-se convencer, repara numa marca no pescoço do cão.
-- Que é isso?
-- Nada, disfarça o cão. Mas o lobo insiste. E o cão acaba por confessar que são marcas da coleira com que o prendem. Preso? Ah, o lobo não trocaria a liberdade por todas as iguarias do cão, por um tesouro que fosse. E deu em fugir com tal ímpeto que até hoje não parou de correr.
(A fábula pode ser lida, por exemplo, neste link.)
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