Noite gélida de Dezembro. Tinha então uma cadela rotweiller, e ela ladrava furiosa. Saí para o quintal a tentar perceber o que se passava. Nada descortinei na escuridão. Mas a cadela olhava para cima, para a oliveira que pega com as capoeiras. Não a consegui acalmar. Era tarde, mais de meia-noite, não queria que o seu ladrar poderoso, insistente, incomodasse os vizinhos. Fui buscar lanterna. A custo, avistei um gato no alto da árvore. Obriguei a cadela entrar em casa, na esperança de que o gato fosse à sua vida. Em vão. Quando, muito tempo depois, deixei sair a cadela, que não acalmava, a história repetiu-se. Eu queria sossego, queria deitar-me. Comecei por atirar objectos para a oliveira tentando assustar o gato. Subiu ainda mais.
Sem saber o que mais fazer, lembrei-me de usar água, sabido que é que os gatos a detestam. E vai mangueirada até ao alto. Mas o bichano, mesmo ensopado, não descia.
Ouço chamar. Prendo a cadela, vou ao portão. Eram os vizinhos novos. Preocupados porque o seu gatinho siamês estava desaparecido.
Bom, estava um gato em cima da minha oliveira…
Se podiam entrar. Claro. E fui-me desculpando: até lhe atirei com uma pouca de água a ver se descia, coitado… Não imagino o que terão pensado ao ver o charco debaixo da árvore, depois ao recuperarem o bichano ensopado, a tiritar como varas verdes, que a vizinha aconchegava no regaço, a tentar aquecê-lo, parecendo não ligar às desculpas que eu repetia: sem saber como fazer o gatinho descer, só me tinha lembrado da água…
FOTO: a cadela, Sete de seu nome de família. Com um tubo de PVC, o seu brinquedo favorito. Saudades.
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