Estrasburgo, 2000. Treino de Tai Chi |
Maravilhou-me a elegância do Tai Chi, logo da primeira vez vi executar, há uns bons 20 e tantos anos. Eu praticava um karaté de baixíssimo nível técnico, que privilegiava a força e a brutidade, apesar dos avisos em contrário que já então o sensei Vilaça Pinto fazia ouvir -- e nós, se escutávamos os seus conselhos (que remédio, era o mestre a falar), ignorávamo-los na prática, como se a nossa máxima fosse "quanto mais bruto melhor".
O Tai Chi foi-nos apresentado como o remédio miraculoso que evitaria a doença, afastaria a velhice, adiaria a morte. Por isso o treinei afincadamente, o que seguramente me não fez mal nenhum. Mas, acredito-o hoje, muito me beneficiou ter continuado a praticar em simultâneo o karaté, apesar do inconveniente óbvio de ter limitado os meus progressos tanto na suave arte chinesa como no mais rude e aparentemente mais tosco karaté. Vários dos companheiros de então foram levados pela doença e pela morte, apesar de treinarem afincadamente o Tai Chi. Alguns sofreram graves enfermidades. Outros exibiam barrigas bem prósperas, que faziam rir os velhos karatekas. E num seminário com Yang Jwing- Ming, o mestre contou-nos que sofria do coração, problema congénito e familiar. Que, ao sabê-lo, protestou junto do médico: -- Mas eu faço 12 horas diárias de Tai Chi! E o médico: -- Pois, o Tai Chi é óptimo para combater o stress e baixar a tensão arterial. Mas para combater o colesterol precisa de fazer exercício violento.
Aproximava-me dos cinquenta. A escola em que treinava tinha abandonado o karaté em favor do Tai Chi. Entendi chegada a hora de agradecer tudo o que tinham feito por mim e mudar de rumo. E voltei a dedicar-me exclusivamente ao karaté.
Aproximo-me dos sessenta. Muitos dos karatekas do meu tempo abandonaram a prática, uns por desinteresse, outros por razões de saúde, que os anos não perdoam. Enquanto puder, continuarei. Quando não treino durmo pior, sinto as pernas presas, surgem dores aqui e ali. E o Tai Chi? Primeiro pensava: quando não puder treinar karaté, volto-me então novamente para ele. Hoje duvido. Afinal, um passeio enérgico, uma kata executada de acordo com as nossas capacidades físicas trarão seguramente mais benefícios. Perdi há muito a fé na magia do Tai Chi, seja ele Yang ou Chen.
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