Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha
Logo aos primeiros tiros, Pedro Perdigão tombou redondo por terra. Baque tremendo, dor terrível, sufoco, poeira e sangue – outro resignar-se-ia ao fim inelutável, não ele, Pedro Perdigão.
--- Busca, Fagote! Busca a perdiz! Por ali, ela foi por ali!
Ah, destino ingrato, cair de tiro, morrer abocado por rafeiro, sexo transmudado como se fora paneleiro!
Latidos excitados, Pedro corre ligeiro evitando as dentadas, ziguezagueia, ora o acossam da esquerda, ora o acometem da direita, para onde virar, por onde fugir, a cachorrada vem de todo o lado, -- Busca, busca o ferido!
(Assim está melhor, morrer por morrer que seja como macho, senhor do harém d’Aqui e d’Além.)
Tenta a canzoada atalhar-lhe o caminho, impedi-lo de alcançar o silvado vizinho, Pedro faz das tripas coração, esvoaça um pouco, o suficiente para lhes passar por cima, eis túnel apertado dos coelhos, por lá entra como se animal da terra fosse, os cães seguem-no, na sua excitação nem sentem a dor de cada arranhão, de fora, esbaforido o caçador, incentiva, ameaça, manda – mas não há cão na matilha, por pequeno que seja, que caiba em passagem tão estreita. Pedro avança, espuma de cansaço, de dor, as feridas do tiro rasgadas pelos espinhos acerados das silvas salvadoras, e, a salvo dos perseguidores, desmaia, exausto e exangue.
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