Um jovem estudante de medicina, de seu nome Leite de Vasconcelos, ouviu um colega de quarto cantar numa língua desconhecida. De tal forma ficou intrigado que, sabendo pelo colega que era falada na terra dele, lá foi estudá-la e apresentou num congresso de Filologia a descoberta de uma língua românica até então desconhecida: o Mirandês.
Estudos subsequentes revelaram que Leite de Vasconcelos estava errado: O Mirandês era, afinal, Leonês contaminado pelo Português. O Mirandês estava em vias de extinção até que foi introduzido como língua oficial nas escolas de Miranda do Douro. Anos atrás fui passear para a região de Miranda, com a esperança de ouvir o Mirandês. Nada. Português com prosódia regional, um ou outro regionalismo, alguns arcaísmos. Português, sem dúvida. Por vezes, há reportagens televisivas sobre esta "língua" e eu, curioso, escuto atentamente na esperança de ouvir alguém falar mirandês. Em vão. Uma ou outra diferença lexical, algumas fonéticas, mas a mesma sintaxe. Nem os miúdos que aprendem o Mirandês na escola o falam.
Pois hoje leio no Blogtailors que a Mensagem foi publicada em Mirandês. Quem a vai ler? Quanto terá custado? Quem pagou? Deixem-me adivinhar: foi o FMI. Que tal publicá-la também em Latim, em Grego antigo, em Sânscrito, em Hitita?
CURIOSIDADE: Muitos anos atrás, fiz eu o último teste da minha licenciatura, Linguística Românica. Tanto calor que o Professor Lindley Cintra pediu-nos licença e tirou o casaco. No teste, um texto que eu identifiquei como Leonês de uma região muito próxima de Portugal, a partir de porteguesismos nele presentes. Só me faltou acrescentar, porque de tal me não apercebi, que era Mirandês...
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