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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

J2HV - a chegada

Esmorecido o entusiasmo da partida, animava-nos agora o da chegada. E bem carecíamos dele: o descanso do terceiro dia, passado no Rio Fundeiro, eu a pescar, o Vergílio a banhos, não nos devolveu as forças, antes fez emergir a fadiga e as dores musculares. Afinal, teríamos remado umas boas dezenas de quilómetros e numa chata lenta e pesada, que não cortava a água com a elegância de um cisne, antes a empurrava à frente com rudeza de hipopótamo. O vento soprava forte, ora empurrando-nos para trás, ora, quando o rio mudava de direcção,  dando alívio e ajuda, pelo que nos lembrámos de usar o oleado como vela, prendendo-o à proa e segurando-o com os braços, de pé, enquanto o camarada remava, agora um pouco aliviado. Foi assim que do alto da ponte nos avistaram, a quilómetros de distância, o casco um pontinho laranja rente à água, acima o cinzento da vela improvisada, que um de nós, qual Cristo crucificado, segurava dolorosamente, como bem imagina quem já permaneceu um bom instante braços alevantados. Lá estavam as nossas mulheres e o H, pesaroso de não nos ter acompanhado. No regresso, passámos pelo parque de campismo de Castelo do Bode, onde tinha ficado o carro do Vergílio. Com um palmo de água no interior, do temporal que sofremos na primeira noite no Rio Fundeiro.  
Durante dias, semanas, recordámos cada episódio do périplo, quase remada a remada, enfatizámos o esforço, rimos das discussões que em espaço tão acanhado e condições penosas inevitavelmente estalavam. De tal forma que o H, inspirado pela nossa chegada à vela e a remos, propôs nova subida do Zêzere, desta vez à vela e até onde fosse navegável. Mas essa é matéria para o próximo post, J2HV - A Sequela, embora adiante, desde já, que também nisto de aventuras nenhuma preserva a magia e o encanto da primeira, sempre irrepetível.
MAPA: a última e mais custosa etapa da subida do Zêzere. Da margem oposta ao Rio Fundeiro até ao cruzamento com a estrada nacional 238, se a memória me não falha.

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