Os partidos políticos teimam em me deixar sem escolha também nas próximas eleições. Porque, viciados na retórica tola com que nos vêm anestesiando desde o 25 de Abril e na procura do efeito mediático, simplesmente não se conseguem calar, não conseguem impedir os disparates que prontamente jorram da boca dos seus dirigentes mal vêem câmaras de televisão. Haverá nesta atitude, para além do falajar crónico
("temos de dizer alguma coisa senão morremos estúpidos" -- e só um estúpido fala para não ficar calado)
a convicção enraizada, que faço remontar à oratória barroca, de que com suficiente conversa e excessiva exposição mediática nós iremos na cantiga. O que, infelizmente, tem acontecido.
Primeiro foi o PS, obstinadamente estúpido e incompetente, a fazer-me arrepender de lhe ter dado o meu voto há seis anos; agora é o Coelho, que todos os dias me dá fortes razões para nele não votar; o PC, em que votei algumas vezes no tempo de Cunhal, definha tristemente afogado em lugares comuns e falta de ideias -- e como as poderia haver num partido que escorraça quem ousa tê-las? Havia, ainda o Bloco de Esquerda, apesar dos discursos redondos e ocos de Louçã, que gosta tanto da palração que se esquece do conteúdo; mas, há pouco, vi cartaz do Bloco, tão abjecto, tão baixo, tão inflamatório dos sentimentos mais baixos da populaça, que também a possibilidade de nele votar foi prontamente excluída. Tem por slogan
"Para eles a fartura / Para nós a factura"
Será que as pessoas inteligentes do Bloco se não indignam com esta dicotomia bronca entre nós e eles, com esta alusão invejosa e mesquinha à fartura dos outros, com este atribuir simplista da culpa aos outros, porque nós, coitadinhos, nada temos a ver com o que se passou em Portugal desde o 25 de Abril? O que pretendem, afinal, os seus dirigentes? Uma Patuleia? Cuidado, porque o eleitorado do Bloco está bem mais do lado da fartura do que da factura!