Uma noite com Pessoa, propõe a casa do dito cujo, o tal que morreu anónimo e miserável e cuja obra continua entre nós a ser mais citada do que lida -- mas quanta gente não ganha a vida à custa dele e da sua memória! Prefiro -- é certo que ninguém me convidou, a mim que sou ninguém -- prefiro passar a noite com a minha mulher. Na tropa tive de dormir em camarata com meio pelotão e não recomendo. Menos ainda dormir com fantasmas. Honrar Fernando Pessoa é bem diferente: faz-se lendo-o e ensinando outros a amar a sua obra. Tarefa árdua, cada vez mais árdua, nestes tempos em que as leituras são não raro substituídas por visitas de estudo, passeios e roteiros, resumos, filmes, peças de teatro, eventos mediáticos -- a actividade não é importante, contanto que poupe aos nossos alunos a maçada da leitura e lhes proporcione conversa suficiente para se desenrascarem em exame.
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