A pistola-metralhadora FBP era falsa, todos o sabíamos. Por isso nós, furriéis milicianos, nunca tínhamos balas no carregador, que aquela descendente da francesa Vigneron disparava por nervosismo, stress, pequenos impactos... Qualquer pretexto lhe servia. Boa para a luta nas ruas, onde importa disparar primeiro, com as suas balas derrubantes de 9 milímetros, perigosa em situações de paz, quase inútil no mato, com o seu tra-tra amaricado, incapaz de impor respeito ao inimigo como fazia a G3, de estrondo másculo e coice poderoso, a amiga fiel do soldado e do oficial. Mas era a arma padrão do sargento e sargento, naquele tempo, salvo nas forças especiais, não sabia usar arma: era o escriturário, o amanuense, o manga-de-alpaca, a guerra entregue aos milicianos. Pois não sei porquê, mas naquele dia o sargento de serviço, sargento de dia, era do quadro e levou à risca as suas obrigações, carregando a tiracolo a FBP regulamentar, carregador bem abastecido, quando foi fazer a revista ao pessoal de serviço, costas para a parede da caserna – que crivou de balas, sem atingir os soldados, os quais, com os reflexos apurados em tiroteios, prontamente se lançaram ao chão. E o sorja lateiro, em pânico: -- Acudam, acudam, parem-me esta coisa! -- enquanto a pistola-metralhadora continuava a vomitar balas em todas as direcções…
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