Excelente post de Rentes de Carvalho sobre a importância social da pose. Que me fez recordar um episódio relatado pelo mestre Funakoshi, o homem que levou o Karaté de Okinawa para o Japão. O mestre ganhava então a vida como porteiro numa residência de estudantes e, quando varria a entrada, chegou cavalheiro importante a perguntar pelo famoso sensei Funakoshi. O velho mestre pediu licença para o ir chamar, entrou no prédio, tirou o avental, largou a vassoura, penteou-se e apresentou-se ao cavalheiro estupefacto: -- O porteiro veio dizer-me que me procurava...
Também eu já passei por situações semelhantes. Há vinte e tal anos, durante a construção da minha casa, cavava um cabouco, encharcado em suor, roupa enlameada, e sai de carrão senhor encasacado, engravatado, sapatos reluzentes, passa por mim como se eu não existisse, nem sequer bom-dia sobranceiro, entra na casa e dirige-se ao pedreiro. À distância não oiço o que diz, mas, pelos gestos, a apontarem para mim, presumo que pergunta pelo patrão. Volta cabisbaixo para me tentar vender não sei que materiais, desmoralizado, sem convicção -- com razão, porque, digo-lhe, não tenho tempo para conversas, preciso de abrir o alicerce. Mas, acrescento para o pôr a andar, se quiser ajudar, podemos conversar. Ora lá reza o rifão, antes uma mão inchada que uma enxada na mão...
FOTO: a cavar. Não um cabouco, mas o meu poço. Pouco depois da construção da casa.
Sem comentários:
Enviar um comentário