Não fui à manifestação e, portanto, não sei o que se passou lá. A essa hora, estava no corredor dos Cuidados Intensivos da Cirurgia Toráxica, a aguardar que terminasse a operação à minha mãe. E quando um homem fala daquilo que não sabe só pode dizer asneiras, não importa o que tenha visto na televisão (e foi muito pouco) ou o que tenha lido, sobretudo nos blogues. Por isso, não me pronuncio sobre o número de manifestantes (e deve ser difícil contá-los, sobretudo se não pararem quietos), as respectivas ideologias e motivações, ou o apregoado civismo, que pode ser muito bem uma exteriorização de conformismo bem comportado. O que tenho a dizer não é novo e ninguém o vai querer ouvir, menos ainda seguir: é preciso mudar de rumo. Todos nós. Não basta culpar os partidos políticos por estarem alheados da sociedade (e estão, e sempre estiveram, e assim querem continuar, ou alguém acredita que os militantes fazem poleiros para os outros?), nem transferir a esperança para movimentos cívicos em país onde se cospe na via pública, se atravessa ao lado mas não sobre as passadeiras, onde os condutores se sentem reis e senhores das estradas, se adora a cunha e se ultrapassam os outros sempre que possível. Deixemo-nos de tretas: em Portugal não há civismo, como pode haver movimentos cívicos? Trata-se, e aí vai a solução que parecem procurar no pós-manif, de abandonar um estilo de vida insustentável (a realidade vai dar-me razão) e de procurar outros, menos urbanos, menos manga-de-alpaca, sem Ipads e Iphones, em que haja mais interesses na vida do que descarregar filmes, músicas, viajar para destinos exóticos. Para viver mais próximo da natureza e em harmonia com ela, pôr a produzir a terra onde ela for capaz de o fazer em vez de a cobrir de betão, reforçar os laços familiares e de amizade, comer o pão que se ganhou com o suor do rosto, recuperar os prazeres simples como saborear a água da fonte ou o vinho do produtor, ler um livro, ver um filme, ouvir uma música, conversar, amar...
Ou seja, abandonar o novo-riquismo urbano feito de centros comerciais onde as famílias passeiam aos domingos, e voltar à província, ao campo, à ruralidade, reabrir as escolas e os hospitais fechados. Não para viver como os nossos antepassados, odiando os vizinhos e lutando à enxadada por um palmo de terra numa sovinice repugnante. Mas para nos integrarmos no país possível. Para sermos mais felizes. Para sobrevivermos.
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